Agosto de 2024 – O Rio Sena, um dos mais icônicos símbolos de Paris, ressurgiu nas Olimpíadas de 2024 após um século de contaminação. Graças a um ambicioso projeto de despoluição, com um investimento de 1,4 bilhões de euros (cerca de 7,3 bilhões de reais), suas águas foram revitalizadas, permitindo a realização de competições aquáticas, como o triatlo, durante os Jogos Olímpicos.
Mas como foi possível restaurar a qualidade da água de um rio que, por mais de um século, foi poluído por esgoto industrial e resíduos urbanos? A resposta reside em uma série de esforços coordenados e na aplicação de tecnologias inovadoras. Cerca de 10 anos atrás, teve início o processo de purificação do Sena, que incluiu, entre outras ações, a implementação dos “jardins filtrantes”. Essas áreas verdes são projetadas para filtrar e tratar a água de maneira natural, utilizando plantas que removem poluentes e melhoram sua qualidade. Este processo, combinado com o tratamento avançado de esgoto e a redução das fontes de poluição, foi essencial para que o Sena pudesse voltar a ser um rio limpo e saudável.
Um dos pilares fundamentais desse processo foi é a coleta e o tratamento adequado de esgoto antes do seu lançamento no curso d’água. Para garantir a despoluição efetiva, foi necessário implementar sistemas de tratamento de esgoto eficientes e descentralizados, que eliminam contaminantes antes que a água seja devolvida ao ambiente natural. Sem essa etapa crítica, qualquer esforço de despoluição estaria fadado ao fracasso, pois a principal fonte de poluição continuaria a comprometer a qualidade da água.
“A despoluição de um rio requer uma abordagem multifacetada, que pode incluir desde o controle e tratamento de esgotos até a reintrodução de vegetação nativa e a restauração de ecossistemas ribeirinhos. Cada rio possui suas particularidades, mas o exemplo do Sena demonstra que, com a combinação certa de recursos, tecnologias e vontade política, é possível reverter décadas de degradação ambiental e devolver à população um recurso hídrico vital”, comenta Sibylle Muller, engenheira civil e CEO da NeoAcqua, empresa de referência em sistemas de tratamento e reuso de água e esgoto.
Além de serem uma solução sustentável, os jardins filtrantes ajudam a restabelecer o equilíbrio ecológico do rio, promovendo a purificação da água de forma contínua e natural. Essa abordagem provou ser eficaz na recuperação do Sena, contribuindo significativamente para que o rio voltasse a ser seguro para atividades recreativas e esportivas.
Conforme destaca Sibylle Muller, além dos “jardins filtrantes”, outros processos desempenham papéis cruciais na recuperação de rios como o Sena. A dragagem e a retenção de resíduos sólidos, através de técnicas como a dragagem contínua do fundo dos rios, o gradeamento e a instalação de separadores de sólidos, são igualmente importantes. Esses métodos são focados na remoção de objetos e detritos do fundo do rio e na prevenção de que resíduos sólidos entrem no curso d’água, ajudando a manter a qualidade da água e a evitar novas contaminações.
Sibylle Muller ressalta que, embora todas essas técnicas sejam fundamentais, o passo mais crucial na despoluição de um rio é a melhoria da qualidade da água que nele é despejada.
“Para iniciar um processo de despoluição eficaz, é essencial interromper a poluição na fonte ou garantir que toda a água despejada no rio seja tratada adequadamente por sistemas de tratamento de esgoto descentralizados antes de ser devolvida ao ambiente natural”, explica Muller.