O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), prometeu em junho do ano passado entregar o rio Pinheiros mais limpo e sem o habitual mau cheiro até 2022, um projeto ambicioso de despoluição ambiental capaz de atrair investimentos em áreas de lazer e centros comerciais em sua orla. O próprio secretário estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente, Marcos Penido, reconhece que os paulistanos, frustrados com inúmeras promessas descumpridas em relação à despoluição dos rios da cidade, não deram crédito ao anúncio. “As pessoas riem quando tocamos no assunto”, diz Penido. “Mas a proposta é séria, está muito bem detalhada, e já estamos executando.”
O primeiro grande teste do interesse dos investidores pelo projeto se dará dia 6 de fevereiro, quando o governo paulista deverá abrir os envelopes com as propostas do chamamento público lançado em dezembro para a revitalização da Usina Elevatória de Traição, agora rebatizada como Usina São Paulo.
O espaço soma 29 mil m2 entre o prédio da usina, que fica sobre o rio, e a área da sua margem, ao lado da pista da via Marginal sentido centro – zonal sul, hoje ocupada por uma subestação de energia que pertence à Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), que terá que transferi-la até 2021.
A expectativa é que investidores do setor imobiliário se interessem pelo espaço, que está em uma região valorizada entre os bairros Cidade Jardim e Morumbi, e poderia receber empreendimentos como centros de comércio e lazer, restaurantes e ainda um espaço de eventos no prédio da usina, que passaria por uma reforma. Mas o investimento só fará sentido se o rio de fato for despoluído.
O governo também planeja disponibilizar para a iniciativa privada, por meio de licitação a ser lançada em 2021, dois outros lotes de áreas marginais ao rio, que seriam destinadas a centros de comércio e lazer. Uma área entre a Usina de Traição e a Usina de Pedreira e outra entre Traição e o complexo de viadutos conhecidos como Cebolão, onde o Pinheiros desagua no Tietê. O governo avalia que a revitalização desses espaços irá gerar uma valorização do entorno, gerando entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões em novos negócios.
O consultor Gesner Oliveira, sócio da GO Associados, diz que há um potencial imenso para negócios nas regiões que serão disponibilizadas e isso já desperta o interesse de investidores. “A despoluição do Pinheiros pode se tornar em case mundial de recuperação de área degradada no entorno de rios”, afirma. “É desafiador, mas factível e o projeto apresentado é consistente”, diz.
A principal meta do projeto de despoluição é melhorar a condição aeróbica do rio. O indicador avaliado é a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO). A referência é DBO inferior a 10 miligramas por litro (mg/l). É a condição para a água ser considerada limpa. Hoje, o rio apresenta DBO de 75 por mg/l. A proposta é reduzir o DBO para menos de 30 por mg/l.
“Não teremos um rio próprio para banho, mas adequado para navegação e ocupação de suas margens, como o Tâmisa, em Londres”, diz Benedito Braga, presidente da Sabesp. “O ideal seria o rio voltar a ser limpo, ter vida. O que conseguiremos é eliminar o mau cheiro. Mas é um começo”, diz Gustavo Veronesi, coordenador técnico do Observando os Rios da SOS Mata Atlântica.
No entorno da bacia do Pinheiros estão 1,45 milhão de imóveis, sendo que a coleta de esgoto chega a 1,3 milhão deles. Destes, só 800 mil contam com esgoto tratado.
As obras de expansão da coleta e tratamento de esgoto estão orçadas em R$ 1,5 bilhão. Os recursos foram garantidos em convênio assinado entre a Sabesp, responsável por essa etapa do projeto, o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
As empresas vencedoras das licitações serão remuneradas pela performance na prestação do serviço e não pela infraestrutura implementada. Os contratos terão validade de cinco anos, após os quais a infraestrutura construída e a responsabilidade pelos serviços serão revertidas para a Sabesp.
Fonte: Valor Economico