Por Sibylle Muller
Boa parte dos moradores das grandes cidades brasileiras tem um encontro marcado com eventos que se repetem todos anos e causam mortes, danos físicos, materiais e transtornos ao funcionamento dos equipamentos públicos: as enchentes, enxurradas e deslizamentos de terras causados pelas chuvas de verão. Estes fenômenos vêm piorando com a crescente impermeabilização do solo urbano, que impede a infiltração da água de chuva nos terrenos e acaba levando as águas a escorrerem superficialmente.
Outro aspecto importante na formação de enchentes é causado por resíduos acumulados nas ruas e areias de construções, que levados pelas águas de chuva até a rede pública, podem causar entupimentos nas tubulações e assoreamento em rios. A obstrução dos canos da rede pública faz com que a água não passe por eles e acabe voltando para as ruas, causando pontos de alagamento. O acúmulo de resíduos em rios e córregos diminui a lâmina de água e aumenta a probabilidade de transbordamento dos rios e córregos, causando enchentes.
É clara a necessidade de melhorar a articulação e cooperação entre a União, Estados e Municípios para a solução sistêmica dos problemas causados pelas chuvas, nos meios urbanos. A receita que o país vem utilizando, há anos, é a adoção de obras de infraestrutura custosas, como os piscinões. Interferências urbanas diversas e o crescimento demográfico devem ser considerados para soluções efetivas dentro de um planejamento integrado de médio e longo prazo.
No que diz respeito à impermeabilização do solo urbano, é importante manter, para novos projetos, taxas mínimas de áreas permeáveis nos terrenos para promover a infiltração da água de chuva no solo, reduzindo a possibilidade de enchentes.
A gestão das águas de chuva começa a ser realizada, pontualmente, em novos projetos de edificações residenciais, comerciais, corporativas e industriais com a aplicação de soluções sustentáveis, como os projetos para aproveitamento de águas pluviais e reuso das águas cinzas.
Os sistemas de tratamento de águas de chuva, corretamente dimensionados e com uso generalizado, constituem uma das ferramentas no combate à formação das enxurradas e enchentes em áreas pouco permeáveis e contribuem para a diminuição dos fluxos de águas pluviais para os córregos e rios. Além da legislação que deve exigir a previsão de projeto de aproveitamento das águas de chuva, para aprovação de novos empreendimentos, usar incentivos fiscais, como redução de IPTU, para aqueles que tenham sistemas de aproveitamento ou de reuso implantados no seu empreendimento, pode ser uma boa estratégia do poder público para a disseminação do conceito do reúso.
As águas cinzas são águas residuais que geramos diariamente em processos domésticos como, por exemplo, no banho do chuveiro, no uso da pia do banheiro e na máquina de lavar. O reuso de água cinza permite a substituição do uso de água potável em situações em que a potabilidade não é necessária. A diminuição do consumo de água potável e do volume de esgoto gerado, reduzem o volume de água encaminhado para as estações de tratamento de esgoto e ou para os cursos d’água.
As águas de chuva podem ser coletadas, preferencialmente, em coberturas dos edifícios residenciais, comerciais e industriais. O tratamento dessas águas deve prever filtração e desinfecção, mesmo para a utilização em fins não potáveis. Além do papel ambiental, a possibilidade de substituição de parte dos volumes de água potável por água de chuva resulta em redução efetiva do consumo de águas potáveis, diminuindo custos e preservando os mananciais para finalidades mais nobres.
A partir de estudos de viabilidade do custo x benefício do aproveitamento das chuvas e das águas cinzas, para cada obra e região, a AcquaBrasilis, desenvolve projetos e instala sistemas de aproveitamento dessas águas para irrigação de jardins, canteiros, lavagem de piso, calçadas e limpeza em geral, bem como, em descargas de vasos sanitários e lavagem de veículos.
A introdução de sistemas de uso racional da água nos projetos, com a retenção e consumo das águas no próprio empreendimento, com o aproveitamento ou reuso, resulta em pontos positivos para aqueles que almejam obter as certificações internacionais de sustentabilidade na construção civil, como a AQUA-HQE e Leed, do GBC.
Os sistemas para tratamento e reuso de águas de chuva e cinzas, bem dimensionados e com operação adequada ao longo do tempo, podem diminuir, volumes de escoamento de águas superficiais nas ruas e reduzir os volumes de água que escorrem para rios e córregos, resultando em redução de enchentes e seus acidentes e mortes, o que pode trazer muitos benefícios, principalmente, na época das fortes chuvas de verão.