Pesquisadores da Austrália disseram nesta quinta-feira (16) que pretendem fazer testes no esgoto para identificar a presença de coronavírus no material, o que indica quais comunidades estão em risco. Houve um piloto regional bem sucedido.
Esse primeiro ensaio, feito em conjunto por um órgão de ciências do governo conhecido pela sigla Csiro e pela Universidade de Queensland, será desenvolvido para criar um sistema de vigilância. Com base nele, as autoridades vão tomar decisões a respeito de confinamento da população.
Austrália e Nova Zelândia registraram o menor número de casos em quase três semanas
O novo projeto usa um sistema já existente das autoridades que investigam crimes. Elas analisam água de descargas para identificar se há presença de drogas ilícitas em cidades australianas.
No teste, conduzido na região de Queensland, os cientistas conseguiram detectar um fragmento do gene do Sars-Cov-2 no esgoto não tratado.
Se for empregado em larga escala, esse teste pode servir para calcular o número de pessoas infectadas em uma região sem testar cada um dos indivíduos, de acordo com o Csiro.
Na Austrália, milhares de pessoas são testadas da maneira convencional.
O diretor de ciência de água e terra da Csiro, Paul Bertsch, disse que o projeto vai ajudar o governo a flexibilizar o confinamento por detectar as áreas que são problemáticas. Os moradores de regiões que não têm o Sars-Cov-2 no esgoto poderão sair.
Rastros do Sars-CoV-2 pode aparecer nas fezes dentro de três dias após a infecção – bem antes do desenvolvimento de sintomas graves. Transmissão por fezes e urina ainda não está comprovada, segundo uma pesquisa publicada pela revista Nature.
Os pesquisadores que publicaram o artigo encontraram vestígios do vírus em esgotos da Holanda, Estados Unidos e Suécia.
Embora não haja comprovação de que o Sars-CoV-2, o novo coronavírus, possa contaminar pela urina ou fezes, a análise de águas residuais – que passa pelo sistema de drenagem até uma estação de tratamento – é uma maneira de os pesquisadores rastrearem doenças infecciosas e pode dar às autoridades uma vantagem para determinar medidas de bloqueio.
Estudos mostraram que o Sars-CoV-2 pode aparecer nas fezes dentro de três dias após a infecção – muito antes das duas semanas, em média, que os pacientes infectados levam para desenvolver sintomas graves e obterem um exame diagnóstico oficial.
“Sete a dez dias podem fazer muita diferença na gravidade desse surto”, diz Tamar Kohn, virologista ambiental do Instituto Federal Suíço de Tecnologia em Lausanne.
A microbiologista Gertjan Medema, do KWR Water Research Institute em Nieuwegein, na Holanda, afirma que uma estação de tratamento de esgoto pode capturar resíduos de mais de um milhão de pessoas, incluindo quem está com sintomas leves ou são assintomáticos.
Só os serviços não-essenciais estão funcionando no país. Aglomerações de mais de duas pessoas são razão para multas.
As medidas restritivas ajudaram a interromper as infecções. A Austrália tem 63 mortes e pouco mais de 6.400 infectados, segundo a universidade Johns Hopkins.