Não será uma simples decisão administrativa. Será um embate político, onde há interesses divergentes em jogo: econômicos e ideológicos.
A Cia. Águas de Joinville está fazendo estudos para definir qual seráo melhor modelo de gestão do saneamento no futuro. A análise técnica deverá ser finalizado em setembro deste ano e contempla, inclusive, a alternativa de privatização da companhia municipal. A informação é do presidente Giancarlo Schneider, nomeado para o cargo em janeiro. Executivo com 30 anos de experiência na iniciativa privada, era CEO da Kavo do Brasil. Atualmente, a Águas é empresa pública pertencente à prefeitura de Joinville e emprega 454 pessoas.
Claro que uma decisão dessa magnitude, a mudar a estrutura organizacional – se vier a ser considerada como ideal pelas análises técnicas – passará pelo conselho de administração da Águas e pelo prefeito Adriano Silva.
Não será uma simples decisão administrativa. Será um embate político, onde há interesses divergentes em jogo: econômicos e ideológicos.
Cuidadoso, neste início de gestão, o novo presidente está mantendo a equipe que estava em cargos-chave na Águas. Sabe que não dá para mexer nas estruturas sem antes conhece-las muito bem.
Em relação ao modelo gerencial (privatizar ou não) explica:
“Nas discussões faremos benchmarketing não só com companhias brasileiras, mas de toda a América Latina para encontrarmos o melhor modelo.”
Antes mesmo de qualquer tomada de decisão a respeito (e isso costuma demorar) há urgências a serem equacionadas. Como o próprio presidente reconhece:
“Não podemos cometer o erro de desacelerar os investimentos. Até agora, 70% do que foi investido em saneamento, foi dinheiro da própria Águas de Joinville. Só 30% são recursos captados fora. A gente vai dar sequência aos investimentos.”
O que está claro e muito bem retratado no levantamento do Instituto Trata Brasil, é a dificuldade de Joinville melhorar significativamente no quesito cobertura de esgoto.
O indicador para o ano de 2020 – dados mais atualizados – revela que a mais populosa cidade catarinense figura na posição 85 entre as cem com maior cobertura de saneamento em todo o país. Significa dizer que estamos entre os 20 piores municípios brasileiros neste quesito. Apenas com 33% de esgoto tratado. E com perdas de água superiores a 40%, quando o índice mundialmente considerado adequado não passa de 15%.
A tarifa de água também é pauta do novo presidente. Schneider diz que deseja “a cobrança de um preço justo para aqueles consumidores com renda menor”. Sim, este pode ser um caminho para dar mais justiça social. Ele sabe que também precisa melhorar a eficiência operacional para, então, melhorar o resultado.
Antes de mais nada, Schneider está atento à velha questão do desperdício de água, fator de desgaste dos gestores, e fato incompreensível dada a dimensão social e o seu impacto econômico-financeiro.
“Isso tem muitas causas e, temos, aí, boas oportunidades de substituir equipamentos e reduzir as perdas.”
Dados oficiais da companhia mostram que as perdas totais são de 42,19% em relação à quantidade total de água produzida. O índice de perdas na ligação é de 486,86 litros por ligação/dia. O dado indica que, em 2020, houve redução de perdas de 34 litros por ligação/dia. Mesmo assim, com algum avanço, os indicadores precisam melhorar.
Por isso, Schneider entende que o plano de manutenção das redes e de todo o serviço de abastecimento de água é essencial. Em relação aos serviços feitos nas ruas, esburacando vias, Schneider é claro: “temos de fazer um trabalho integrado com outros órgãos da prefeitura, em especial com a Secretaria de Infraestrutura.”
A prioridade à frente da equipe, é elevar a cobertura de esgoto na cidade. Atualmente inferior a 40%, a meta é chegar a 75% daqui a quatro anos.
” Para auxiliar nisso, o marco regulatório de saneamento, vai ser muito importante. Estamos revisando o plano estratégico para nos adaptarmos ao que determina o marco legal, que estabelece que em 2033, Joinville tenha 90% de cobertura de esgoto”, diz Schneider.
O novo dirigente explica que com o marco regulatório fica permitida a busca por financiamentos:
“A situação de capacidade de endividamento da Águas de Joinville é boa e estamos conversando com o BID e com o BNDES.”
O trabalho será árduo.Joinville está na lista dos20 piores municípios em esgotamento sanitário já faz oito anos, diz o estudo do Trata Brasil. O que ficou claro até agora, é a incapacidade do poder público em avançar de maneira consistente na melhoria dos padrões desaneamento básico.
Nem Casan, no passado;nem a Cia. Águas de Joinville deram conta de resolver esse grande passivo ambiental. Para a população não importa quem administra o sistema; importa que a qualidade do serviço seja de boa qualidade a preços justos.
Fonte: NSC Total